Há exatos dez anos que me aventurei na Índia, um país que sempre me fascinou profundamente pelos mesmos motivos que encantam milhões de outras pessoas: os monumentos, templos e palácios grandiosos e exóticos, o colorido dos saris, a comida deliciosa e de queimar a boca a cada garfada, a diversidade cultural. A Índia me chamava num sussurro e, aventureira na minha juventude, arrumei as malas e parti para Jaipur, no Rajastão.
Quando se cresce na costa, o mar é aquela presença constante que vira-e-mexe você encontra ao percorrer a cidade. Está sempre li, à espreita.
Lembro-me de quando ainda morava em Salvador que no caminho para o escritório a vista magnífica do mar se revelava em minha frente. Todos os dias eu admirava a grandiosidade do mar, na certeza de que o amanhã me daria o privilégio de vê-lo novamente. Era reconfortante, essa constância.
Em sua terceira excursão pela Alemanha este ano, o autor de Eles Eram Muitos Cavalos, Luiz Ruffato, nos deu a honra de sua presença na Feira Internacional de Contos de Munique, onde um grupo de brasileirinhos encenou a narrativa de sua primeira obra infantil, A História Verdadeira do Sapo Luiz.
Tive o prazer de conhecer e conversar com o autor, que me contou sobre seu relacionamento especial com a Alemanha, sua opinião sobre a literatura no Brasil, e que novidades podemos esperar do escritor em 2017.
Há muitos anos atrás, estava conversando com um colega de trabalho espanhol que me contava sobre suas férias no Brasil. Encantado com a beleza das paisagens e a alegria das pessoas, ele me contava de sua experiência com aquele grande sorriso, até que... o CEO da empresa (um alemão) interrompeu o nosso bate-papo com a seguinte pérola:
Eu jamais vou para a América do Sul, porque lá só tem ladrão.
Foram realmente essas as palavras do dito-cujo... sem tirar nem por!
Num dia desses estava conversando com meu marido sobre o Brasil, e pela primeira vez perguntei:
Se você não tivesse me conhecido, você teria tido vontade de viajar para o Brasil? Não, ele respondeu categórico, me olhando daquele jeito sem-graça. Perguntei o motivo, um tanto surpresa com a negativa, pois ele gostou de todas as viagens que fizemos para a Bahia e além. Ele explicou que sem um incentivo (a esposa), o Brasil nunca esteve em seus planos de viagem. O motivo?
Há algum tempo atrás conheci uma moça italiana que me perguntou: Qual a diferença entre alemães e italianos?
Vendo as incógnitas que brotavam de meus olhos, ela revelou: os italianos esperam a chuva passar para sair de casa; os alemães desbravam qualquer tempo, faça chuva, sol ou neve. Têm uma carapaça esses germânicos, capazes de fazer um jogging esperto mesmo quando está aquele breu lá fora, de pedalar quilômetros sob chuva incessante, de passear com os filhos ao ar livre independentemente do tempo.
Não sei porque ainda me choco quando vejo o quão desvalorizada está a literatura brasileira. Não pela qualidade das obras que, dos clássicos aos contemporâneos, sempre têm estórias maravilhosas. Falo da falta de interesse das editoras e do público, um círculo vicioso de desinteresse pelo o que é produzido na terra do verde e amarelo.